Ao fazer viagens longas ou mudar para fora do Brasil, a gente se vê às vezes diante de saudades esquisitas. Isso me aconteceu, por exemplo, com o queijo prato, que simplesmente não existe lá fora! O pouco celebrado, mas muito consumido queijo prato é uma invenção nossa, só nossa, sem igual.
Quando passei uma temporada trabalhando em Angola, na África, me enchi toda de esperança ao bater os olhos num queijo chamado por lá (e também em Portugal) de flamengo. Flamengo, para quem não sabe, é o que vem de uma região que fica no que é hoje o norte da Bélgica, mas que já foi parte da Holanda e que, por isso mesmo, fala uma língua chamada flemish.
Comprei logo X gramas do flamengo na maior alegria, mas no primeiro sanduba eu descobri o inevitável: que o prato e o flamengo são apenas primos. Nada mais. E deixei mesmo para matar a minha saudade esquisita para quando voltasse ao Brasil. Só que, enquanto isso, a curiosidade ficou aguçada e um dia eu resolvi pesquisar.
Foi assim que descobri que todo queijo feito em qualquer região do Brasil é mineiro, porque foi aqui que a indústria queijeira do país começou. Um médico, nascido em Barbacena e filho de portugueses, trouxe para as nossas montanhas a tradição do queijo, abrindo aqui a primeira fábrica de laticínios não só do país, mas também da América do Sul.
Mas o que mais me surpreendeu foi saber que o queijo prato não só tem DNA mineiro como surgiu aqui das mãos de dinarmarqueses (veja você que eu já estava com mil teorias malucas cá na minha cachola achando que o prato nosso era coisa dos holandeses, uma espécie de queijo flamengo adapatdo às nossas condições).
Na Dinamarca, há um queijo tradicional chamado Danbo e ele, sim, foi a inspiração para o nosso prato. Porque os pioneiros chegaram aqui e tentaram seguir a receita tradicional, mas como o queijo depende de coisas como água, leite e até bactérias, foi difícil para eles conseguir uma cópia fiel do Danbo. E assim nasceu, então, o queijo prato que, aliás, só perde em consumo no Brasil, para a muçarela (o queijo minas fica em terceiro lugar, mas bem atrás do prato).
Dr. Carlos Pereira de Sá Fortes fundou em 1888 a primeira indústria nossa de laticínios com técnicos holandeses, fazendo manteiga, queijo reino (que é de origem holandesa) e outra delícia campeã de audiência até hoje no país todo: o leite condensado!
O dinarmaquês Thorvald Nielsen foi o primeiro a fazer queijo prato nas nossa terra brasilis. Ele chegou aqui em 1922 e se instalou em Aiuruoca, no sul do estado.
O Brasil é o 6º. maior produtor de queijo do mundo e praticamente metade do queijo consumido no país é feito em Minas Gerais.
- Texto originalmente publicado na revista Point